O meu nome é Sara Deitado, sou nutricionista e recentemente juntei-me à equipa Põe-te na Linha.
Estudar nutrição permitiu-me hoje, poder afirmar que tenho uma boa relação com a comida e uma melhor relação com o meu corpo, no entanto nem sempre foi assim. Fui uma criança com excesso de peso, sempre gostei muito de comer. Alimentos considerados como saudáveis sempre estiveram presentes na minha alimentação diária como fruta, sopa, saladas, peixe, mas também tantos outros considerados não saudáveis e em porções desadequadas.
O facto de ter excesso de peso durante a infância não era algo que me incomodava, mas quando a adolescência chegou, trouxe com ela a busca pela imagem ideal recorrendo a dietas pouco saudáveis que me prometiam resultados rápidos e que levaram a desenvolver uma má relação com a comida e à oscilação de peso.
Retirar os hidratos de carbono nas refeições principais, deixar de comer pão, viver à base de salada de alface e carnes magras, beber água para enganar a fome e até deixar de comer fruta, foram alguns dos “terrorismos” nutricionais pelos quais fiz o meu corpo passar para atingir o que para mim era a imagem ideal.
Cheguei a atingir o peso que queria, mas a que custo? A custo de não ter energia para as atividades do dia-a-dia, a custo de estar numa constante instabilidade emocional, a custo de perder momentos importantes da vida social, a custo ter piorado a minha saúde intestinal, a custo da minha saúde.
Esse peso rapidamente voltava a aumentar quando desistia mais uma vez da “dieta” e voltava ao que eram os meus hábitos alimentares. Esta oscilação foi se mantendo, até que durante a licenciatura comecei a mudar a forma como via a minha alimentação e o conhecimento que adquiri permitiu-me melhorar a relação com o meu corpo e com a comida. Permitiu-me perceber que a alimentação é muito mais que calorias ingeridas versus calorias gastas, é algo cultural, social e que nos transmite emoções. Hoje sei que não existem alimentos bons e maus, é possível comer um pouco de tudo desde que de forma equilibrada e consciente.
Para que exista uma mudança sustentável é necessário implementar hábitos que perdurem ao longo da vida. Uma alimentação restritiva nunca será algo que consiga manter a longo prazo. No entanto, a alimentação estará para sempre na sua vida e não deve ser vista como uma fonte de ansiedade, medo ou culpa.
Hoje procuro ajudar pessoas transmitindo estes conhecimentos para que consigam fazer escolhas que impactem positivamente a sua saúde. Tendo como missão mostrar que os pequenos hábitos que decidimos implementar na nossa vida têm grande impacto a longo prazo, desde escolhas alimentares, exercício físico, horas de sono, níveis de stress, a gestão de emoções.
Ao longo do meu percurso desenvolvi a minha paixão nas áreas de gestão de peso, saúde pública e nutrição comunitária. No contacto com a comunidade, em contexto clínico e em ações de sensibilização para a promoção da saúde, pude identificar a grande lacuna que existe em literacia em saúde e o quanto este pode ser um fator diferenciador na vida de cada um.
Um dos grandes objetivos enquanto profissional é auxiliar no alcance de saúde, prevenir a doença e otimizar a qualidade de vida. Desmistificar a ideia de que a alimentação saudável está diretamente relacionada à restrição e a extremismos. Na Clínica Põe-te na Linha encontrei uma equipa que partilha a mesma visão de que a alimentação deve ser individualizada, adaptável e equilibrada.
